Este blog está relacionado aos diversos projetos centrados na diversidade e pluralidade étnico-racial que desenvolvemos, sempre de forma coletiva e colaborativa, nas instituições educacionais e educativas onde atuamos como EDUCADOR, seja como professor, coordenador de núcleo educacional, assistente de diretor de escola ou diretor de escola.

Pois, consideramos de extrema importância, desde o início e durante todo o processo educacional, a proposição acerca da questão da IDENTIDADE, pois penso que o país e a sociedade, como um todo, só tem a ganhar com pessoas conscientes e bem resolvidas nesse contexto.

Acredito que esta FERRAMENTA, com os seus conteúdos e informações (textos, imagens, atividades entre outros), nos possibilitará acessar informações relativas ao que há de africano no Brasil, assim como referente ao continente africano, tão vasto e múltiplo, que pouco conhecemos aqui no Brasil.

Nos possibilitará também, valorizarmos a diversidade étnico-cultural, étnico-racial, a partir do debate, reflexão e estímulo a valores e comportamentos éticos como o amor, a amizade, o respeito, a solidariedade e a justiça, de forma que a todo o momento possamos nos posicionar contra qualquer forma de intolerância, e especificamente nos colocando contra todo o tipo de discriminação racial e a favor de práticas antirracistas.

07 março 2010

CRÍTICA AO LIVRO: "A ÁFRICA ESTÁ ENTRE NÓS"

Crítica ao livro:
"A África Está em Nós"
História e Cultura Afro-Brasileira
Primeiro Volume
Autor: Roberto Benjamim
(Roberto Emerson Câmara Benjamim)
Editora Grafset Ltda.

Infelizmente acabei de ler agora no mês de agosto/2006 o livro "A África Está em Nós" de Roberto Benjamim, publicado pela editora Grafset em 2004. Digo infelizmente porque gostaria de ter lido muito antes e é uma pena que somente agora chegou as minhas mãos. Esse livro até onde tenho conhecimento, por falta de outro, e não sei se o Ministério da Educação através de seus departamentos já adotou algum livro didático que sirva de baliza para execução na prática as determinações da Lei Federal, está sendo "adotado" por alguns professores, principalmente de História, cheios de boas intenções, para "orientar" os seus alunos com relação a História da África.

Achei oportuno o lançamento do livro. Acredito ter sido um dos primeiros livros, se não o primeiro de que tomo conhecimento de abordar o assunto com essa diversidade, logo após a publicação da Lei Federal 10.639/03. Fico surpreso com a bibliografia utilizada mas desagrada-me o resultado. Observo que a linguagem do professor Benjamim é eivada de preconceitos. Como militante do Movimento Negro e dos Direitos Humanos estamos acostumados; não estou querendo justificar que é algo bom e que tranqüilamente faz parte do nosso dia-à-dia já que com certeza também nos acostumamos a nos reservarmos e preservarmos dos acontecimentos que têm o intuito de nos maltratar. Isso que escrevo como costume poderia ser colocado como uma espécie de exército de reserva a semelhança de nossa defesa interna através dos anticorpos ou/e até a nossa defesa externa dos animais peçonhentos.

Já na página 20 do referido livro o autor, no "ponto 1.3 - Denominações afro-brasileiras", no item quarto, pela ordem, denominado EWE, decorre o texto escrevendo: EWE - 1. Povo da África Ocidental (que hoje habita o Benin, o Togo e Gana), de onde procederam escravos para o Brasil...". Parece-me que o autor, que também é advogado, com a sua linguagem "coloquial" de escritor, branco, conservador, racista e sem nenhum compromisso com a mudança; indigno de ser considerado parceiro já que temos inúmeros intelectuais brancos e de outras etnias que são verdadeiramente parceiros, não busca novos horizontes no universo da educação brasileira pregado pela "regulamentação da Lei Federal 10.639 de 09 de janeiro de 2003", através das "Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Etnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana" aprovado pelo Conselho Nacional de Educação em 10 de Março de 2004.

Na sua linguagem racista, preconceituosa e discriminatória, o autor usa a palavra escravo como adjetivo pátrio fazendo-se presumir que exista um país denominado "escravolândia" ou algo parecido. Benjamim segue a linguagem da maioria da imprensa e/ou de educadores diretos e indiretos liderada pelo Sistema Globo de Comunicação (vide discussão em torno de outro livro, o Não Somos Racistas de Ali Kamel, diretor executivo da Rede Globo), que planeja e põe no ar no seu jornal de maior audiência manchete como a que ouvimos a poucos dias passados: "Dia de festa para descendentes de escravos".

No livro inteiro o Senhor Benjamim nada faz para mudar essa linguagem racista, discriminatória e preconceituosa criada, difundida e conservada pelos seus antepassados, citando várias vezes que determinados países ou regiões da África era de onde vinham os "escravos". Linguagem essa que cada vez mais ajudam a perpetuar a imagem do negro subserviente e fraco e que pelo seu passado de descendente de "escravos" obviamente jamais poderá galgar altos postos neste país.

É necessário deixar nítido para o Sr. Benjamim e outros racistas de plantão que, se existe um povo descendente de "escravos!" existe também um povo descendente de escravisadores. Um povo que tratava outro povo como coisa, animal; que assassinava ao "bel prazer" aqueles seres que não correspondiam as suas (deles) expectativas; que estupravam as negras para encobrir fracassos sexuais de seus casamentos forjados assim como as doenças e/ou a frigidez de suas esposas. Este senhor acha que é isso que a escola brasileira deve continuar ensinando? É com base nessa educação, eurocêntrica, discriminatória, preconceituosa e racista que devemos abordar a história de nossos antepassados? Senhor Benjamim e demais seguidores, nós negros e negras não somos descendentes de escravos! Somos descendentes de africanos que por um determinado período fomos escravizados. A escravidão não nasceu com os negros e negras africanos (as) como o senhor com certeza é sabedor já que tem muito mais informações do que eu. Uma pessoa do quilate desse senhor quando intencionalmente escreve desta forma em um livro que se pretendia didático tem o objetivo claro (como os senhores adoram falar), de manter cada vez mais os negros e negras distantes de uma auto estima impedindo-os de uma libertação da consciência desse povo.

Nesse livro, ainda com relação a religiosidade do povo afro-brasileiro o autor não age como um cientista mas sim como uma pessoa mais uma vez preconceituosa e a serviço da igreja católica, como nos tempos da inquisição maldita. Distorce informações sobre as religiões de matriz africana, desinforma e colabora com o atraso para que os dados verídicos sobre as religiões trazidas de além mar não sejam difundidos de uma forma mais ampla.Na abordagem internacional o autor perdeu a oportunidade de informar aos leitores/alunos do seu livro como se deu a divisão do continente africano. Há na página 91 do supra citado um pequeno gráfico que "orienta" aos alunos/leitores e como bom descendente de colonizadores o autor foge dos fatos sem deixar nítidas as condições políticas e históricas em que e como que aconteceu a invasão do "continente negro".

Não é por falta de informações pois na relação bibliográfica colocada no final do livro, que presumo que o autor tenha lido, há inúmeros livros verdadeiramente documentais que colaboram para que se tenha uma gama de informações capazes de reforçar um relato científico de como aconteceu. Na abordagem nacional há desprezo da parte do autor por todas as batalhas de transformações e mudanças neste país onde negros e negras estiveram presentes junto com todas as etnias e em grande quantidade. Só para ilustrar esta afirmativa, neste livro não há nenhuma informação a respeito da participação nas luta do povo negro do sul do país nas revoluções e guerras acontecidas principalmente nos pampas gaúchos, a partir do Rio Grande do Sul, estados e países vizinhos com vastos relatos em livros e documentos publicados/divulgados no Brasil e fora dele.

O autor, Roberto Emerson Câmara Benjamim apesar de ter perdido a grande oportunidade de se passar como um parceiros nas lutas pela emancipação (de fato) do povo negro e seus descendentes, age como proxeneta da cultura negra por alguns caraminguás pois tenta a todo custo preservar as "conquistas" de seu povo que este sim, levam e levarão sempre a pecha de terem escravizado um povo que como está escrito também em seu livro (não foi possível nesse ponto mascarar a verdade), muitos deles, reis e rainhas; príncipes e princesas. Se nós somos descendentes de "escravos" como afirmam este senhor e os meios de comunicação do nosso país, os senhores são descendentes dos escravisadores, estupradores de negros e negras oriundas da África. Exterminadores de um povo. Provocadores do genocídio do povo negro.

Os negros e negras nunca concordaram com a sua condição de escravos e hoje nós os afro-brasileiros não concordamos de maneira nenhuma com a escravização de consciências impostas por pessoas que, paradas no tempo, acreditam ainda serem os nossos tutores dominando a mídia e os organismos de educação formal e/ou informal impondo seus ditames de forma "moderna" e oportunista através do compadrio, contubérnio, insensamento daqueles que ocupam o poder. Estamos e vamos continuar atentos.

GERALDO POTIGUAR DO NASCIMENTO
 

13 comentários:

  1. eeeeeeeeeeeeee massa carai

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  2. Vc acredita que este livro está sendo cobrado em concursos? Não sei nada sobre o livro e pesquisando sobre, encontrei seu blog! E pela sua crítica, não que seja influenciada, fiquei triste em ter que lê-lo.
    bjs

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  3. Meu irmão terá q fazer um trabalho da escola com esse livro, vim pesquisar antes d lê-lo e encontrei o blog ake com essa análise fantástica e realista. Confesso q ñ me surpreendi muito com as colocações pq (nós negros) vivemos essa desiugaldade todos os dias. Vc fez observações puramente consideráveis.
    Ainda, o movimento negro fica mais forte a cada dia.
    vlw

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  4. otima critica, veridica e precisa.

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  5. Luíza Alves02/10/2011, 11:43

    Criticar é fácil, aliás é o que a grande maioria de vocês do Movimento Negro fazem. Agora, vai escrever um livro didático para ver como é: são vários autores envolvidos (escritor, pesquisadores,editores), por isso pensem bem em criticar o autor em específico ou então tenta escrever um livro didático que tenha circulação nacional e que passe pela aprovação dos "malditos" editores que pensam no lado econômico. Não é fácil, confesso, mas mesmo assim reconheço a iniciativa do livro. É um passo a ser superado, mas até agora, nada. Apenas críticas. Escrever e editar que é bom, ninguém se interessa.

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    1. Concordo com você Luiza, o que observamos infelizmente são movimentos extremistas que só fazem criticar. O foco deveria ser em difundir o conhecimento. A pesquisa do senhor Roberto foi bastante interessante - mesmo considerando um tanto básica - mas, em meio a um país "politicamente complicado" como o nosso, este material é ouro.

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    2. Samuel concordo com sua observação. Achei o conteúdo excelente e indica a origem das pesquisas. E houve maior destaque da influência cultural em Pernambuco. Resido em João Pessoa e acredito que tenhamos inúmeras raizes africanas a destacar. Fatima

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  6. sinceramente,eu que achei a sua critica preconceituosa e sinceramente, de novo, TRIVIAL! você,digo,o senhor já teve a opotunidade de conversar com ele??? creio que não! é por isso que venho aqui e antes que você pense algo ruim de mim,digo com franqueza que o roberto é uma pessoa maravilhosa e peço que o senhor leia outros livros dele... são inúmeros ,premiados e analisados devidamente .é claro que todos tem o direito de dar a sua opinião por isso eu digo : estude mais sobre o autor e depois tire as suas conclusões e por favor sem argumentos banais.

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  7. Sinceramente não acredito que os argumentos são banais. As críticas do Sr. Geraldo Potiguar foram bem colocadas e são respaudadas, com excessão do ódio e da acusação. Observo que há bastante ira e isso desqualifica o seu discurso. Compreendo que, como a Srª LUIZA ALVES argumentou, não é fácil atender a todas as expectativas, que é fácil demais criticar e muito complicado escrever. Reconheço por isso mesmo que nós negros e negras, organizados ou não, não devemos esperar que qualquer benefício, pesquisa, livro caia do céu, temos que agir, ao invés de somente falarmos. Se queremos uma história do ponto de vista das 'vítimas' devemos escrevê-la.

    Penso que o tapa deve ter doído muitíssimo naqueles que realmente são racistas disfarçados e que não vêem mal algum no reforço que se dá ingenuamente ou propositalmente a ideologias veladas, sutis que colocam o negro a margem da história e da sociedade brasileira.

    Porem ratifico e sublinho que as críticas não devem conter ódio, que não podemos fazer acusações levianas como por exemplo que o Sr. Roberto Benjamim deva ter usado de má fé, má intenção ao escrever o referido.

    Outra coisa que observo é que não cabe aqui nessa discussão posicionamento de pessoas covardes que não se respeitam, reforçam os conflitos, ou se quer tem coragem de identificar-se como fez o autor do blog e outros que o questionaram.

    Abraço,
    Anderson Santos
    Artista e educador popular

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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  9. Lendo esses comentários confesso que fiquei bestializada... Estou fazendo um trabalho da faculdade em cima desse livro, analisando justamente a forma como o NEGRO é colocado e as muitas contribuições dele na formação da cultura brasileira!
    É certo que meu enfoque se dá sobretudo nas religiões Afro, mas para que eu venha a compreender o posicionamento do autor, faz-me necessário uma leitura integra da obra.
    Enquanto se tratando da forma com a qual Benjamin dialoga no livro a respeito dos negros não a achei preconceituosa, visto que como historiadores temos que nos colocar no tempo e no espaço em que a obra foi escrita, analisarmos o contexto e os conceitos e vocabulário que são usados nesse período, sendo assim não posso entender o adjetivo "negro" lendo o livro hoje como sendo sinônimo de pré-conceito ou algo do gênero, visto que para mim negro nada mais é que a denominação dada a um tom de pele que possui mas melanina, algo ligado simplesmente ao fenótipo do ser!
    Quanto ao uso do termo escravo, era de fato o que os africanos trazidos para o Brasil eram, certo que com muita luta conseguiram obter mesmo que em tempo muito tardio, sua liberdade. Não vejo outra forma de tratar de escravidão e da cultura escravocrata, que sabemos que não podemos esconder, existiu no Brasil, de outra forma, são os termos que eram empregados na época de forma pejorativa, hoje continuamos a usá-los, no entanto não com o intuito de ofensa, mas para designar a historicidade da época. Tal como continuamos a fazer uso do termo "índio"!
    Neste estudo, tive o privilégio de ter contato com outras obras de Benjamim, nas quais pude perceber que ele trata de forma bastante respeitosa a influência e contribuição dos povos africanos na formação da cultura e do povo brasileiro!
    Às vezes penso que o pré-conceito parte em alguns casos da gente, tom de pele não define a capacidade de ninguém! Certo que pela historia do Brasil é natural que haja um certo entendimento ""distorcido"" sobre o uso de palavras para com pessoas de cor negra, sendo rotuladas como ofensa ou algo do tipo. Isso para mim é apenas banalidade... Sou NEGRA, de família negra, nunca sofri pré-conceito por minha cor, termos ofensivos não soam apenas para pessoas com maior quantidade de melanina na pele.
    Estudante do curso de História pela UFRN. Natal, 2013.

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iDcionário Aulete

A principal função da educação é seu caráter libertador.

Educar não é repassar informações, mas criar um patrimônio pessoal.