Este blog está relacionado aos diversos projetos centrados na diversidade e pluralidade étnico-racial que desenvolvemos, sempre de forma coletiva e colaborativa, nas instituições educacionais e educativas onde atuamos como EDUCADOR, seja como professor, coordenador de núcleo educacional, assistente de diretor de escola ou diretor de escola.

Pois, consideramos de extrema importância, desde o início e durante todo o processo educacional, a proposição acerca da questão da IDENTIDADE, pois penso que o país e a sociedade, como um todo, só tem a ganhar com pessoas conscientes e bem resolvidas nesse contexto.

Acredito que esta FERRAMENTA, com os seus conteúdos e informações (textos, imagens, atividades entre outros), nos possibilitará acessar informações relativas ao que há de africano no Brasil, assim como referente ao continente africano, tão vasto e múltiplo, que pouco conhecemos aqui no Brasil.

Nos possibilitará também, valorizarmos a diversidade étnico-cultural, étnico-racial, a partir do debate, reflexão e estímulo a valores e comportamentos éticos como o amor, a amizade, o respeito, a solidariedade e a justiça, de forma que a todo o momento possamos nos posicionar contra qualquer forma de intolerância, e especificamente nos colocando contra todo o tipo de discriminação racial e a favor de práticas antirracistas.

03 abril 2011

JUSTIÇA RACIAL E SISTEMA DE AÇÃO AFIRMATIVA

"Negra fedorenta", "catinga de negro". Estes são insultos que muitos de nós brasileiros já ouvimos. Faz parte dos muitos xingamentos que tentaram calar e excluir homens e mulheres negras do exercício da cidadania igualitária e da democracia. Não estou falando apenas da democracia racial, porque essa é apenas uma das maneiras falaciosas de esconder a vergonha de um país que ainda não conseguiu construir a democracia da qual todos possam participar.
O xingamento ofensivo está retratado também em pesquisas sobre o perfil do consumidor afro-brasileiro. Uma pesquisa da Grottera Publicidade feita há alguns anos, analisando o mercado consumidor afro-brasileiro, indicou que a principal demanda de consumo desse segmento populacional era de produtos de higiene pessoal. E, dentre estes, reivindicava em primeiro lugar sabonetes especiais para sua "raça". Será que o uso de um "sabonete especial" poderá afastar a ofensiva histórica a qual os negros e negras brasileiras foram submetidos?
Certamente que não, é o que respondem muitos líderes e empreendedores sociais que vêm trabalhando o racismo há várias décadas em múltiplas dimensões da sociedade brasileira. Jurema Werneck é uma dessas empreendedoras sociais, que iniciou sua organização Criola, com o apoio da Ashoka, para trabalhar com jovens e mulheres negras. Jurema é uma das empreendedoras sociais que coloca, de maneira transparente, a realidade da população negra na sociedade brasileira e no mercado de trabalho. Ela mesma afirma "aquilo que não se via ou não se dizia, ou se fingia não ver/dizer, está dito: Racismo. E é hora de passar adiante".
Aquilo que não se quer ver, pode ganhar fácil visibilidade através de alguns números. Os negros brasileiros representam 69% do segmento de indigentes e 64% do de pobres, enquanto que os brancos estão super-representados no segmento dos ricos, onde dos 10% mais ricos, 85% são brancos. O "Brasil branco" é cerca de 2,5 vezes mais rico que o "Brasil negro". Os negros ganham 30% a menos do que os brancos com nível educacional similar. E apenas 2% dos estudantes de universidades públicas brasileiras são negros.
O "passar adiante" de Jurema está sendo traduzido em uma política de cotas para negros nas universidades, nas escolas e no mercado de trabalho. Será que ainda teremos de passar pela vergonha de ter de estabelecer também um sistema de cotas para negros no atendimento em hospitais públicos? O sistema de cotas já está sendo praticado, mas ainda há divergências. Muitos líderes e empreendedores sociais o vê como um corretivo indispensável à discriminação. Outros defendem políticas públicas abrangentes de educação que instrumentalize a população negra, dando-lhe condições de competir em igualdade para o acesso às universidades e ao mercado de trabalho. Polêmicas à parte, o fato é que três ministérios federais introduziram cotas de 20% para negros para cargos seniores.
Várias experiências no setor privado também adaptam o sistema de cotas. Sueli Carneiro, empreendedora social e fundadora do Geledés, organização que foca na questão da justiça racial, vêm travando diálogos permanentes com empresas sobre a dimensão racial nas responsabilidades sociais.
O racismo informal no Brasil não criou um movimento popular de defesa de direitos civis, como o que ocorreu nos Estados Unidos na década de 60. Mas há no nosso país uma vigorosa ação de combate à injustiça racial, que é liderada por talentosos líderes e empreendedores sociais que estão implementando práticas de responsabilidade racial há várias décadas. São vozes que nunca foram ouvidas, mas que agora começam a acenar para a possibilidade de exterminar a cegueira do país com a questão racial. O chamado à responsabilidade inclui todos nós, indivíduos, empresas e organizações. Não podemos mais permitir que nossos ouvidos corram o risco de se expor a xingamentos ofensivos.

*Anamaria Schindler é mestre em sociologia e vice-presidente internacional de parcerias estratégicas da Ashoka Empreendedores Sociais.

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